sábado, 27 de dezembro de 2008

06:35

Enquanto dormes, aqui ando. Papagueando frases repetidas sem poder dizê-las. Sozinho me rastejo, não fossem as mulheres quem me puxam à vida, não fossem elas a vida. Da meia dúzia que me vestiram a pele, ficou-se uma. Não me governa o mundo por querer, nem sabe ela, nem ela o sabe. Soubesse ela quantas vezes bate a porta. O café já vai fechar. Senhor, não feche já que ainda me faltam preencher três guardanapos com a minha caligrafia apressada. A porta bate de novo enquanto o soldado pousa o cachecol no tampo da cadeira frente à qual se senta. O café já fechou e, de repente, o copo esvazia-se. Mulheres não me governam mais o mundo, dizia ele, sempre que tirava o cachecol quando aparecia para o último chá e o atirava num gesto de impotência contra o tampo da cadeira. O passeio de volta à cama cruzou-nos os passos. Senti-lhe os passos mais atrás e abrandei até que ficámos ombro com ombro a marcar passos pelo passeio fora. Era meia dúzia de centímetros mais alto e começou a falar-me das mulheres enquanto arrancava pele dos dedos. As mulheres que foram, a que ficou. Eu tinha-me penteado tão bem hoje e ela mal me olhou. Ficou, sem saber que ficou e se soubesse, não quereria ficar. O soldado disse até amanhã e nesse momento ela acordou-me os sentidos. Ele disse até amanhã mas eu amanhã vou-me embora. Ela governa-nos o mundo e nem sabemos como entrar em casa. Queria vê-la dormir, somente vê-la dormir - decorar-lhe os traços e ouvir o respirar fundo. Na manhã seguinte descobri os olhos ao soldado. Ele não tinha já vida, mas trazia o olhar de quem a beijou vezes sem fim, na contemplação do seu sono.

Menino:

Não é o que te faz triste que me entristece

porque só tu o sentes,

mas a tristeza que tu sentes

faz-me sentir a tristeza

que é para mim

sentir-te triste.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Quero que o meu coração volte a bater. Quero muito, mas ele não bate. Não posso fazer nada e ele não bate. Não lhe puxam a corda, falta-me a corda. Falta-me tudo. Não bate.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Colhi-as do céu para ti.

Hoje as estrelas brilham como não mais brilharão. Todos os dias elas brilham como nunca houveram ou hão-de brilhar, é certo, mas hoje há menos umas poucas no céu – colhi-as. Em breve reconstituir-se-ão e à infinidade da sua existência irei colher mais umas poucas para lhe dar. Hoje os meus braços prendem-se nos dela porque assim os vejo e assim lhos guardo, no meu abraço. No nosso abraço de mil braços, de muitos braços, de oito braços, não importa quantos - o medo de te sentir triste, a alegria de te ver sorrir e te podermos tocar: fora e dentro, onde a vida nos corre pelos mesmos corredores. Já és mais crescida do que nós e de ti colhemos um pouco de tudo. De ti colhemos o sol e a ti retribuímos o calor e a iluminação, pelo menos assim tentamos. E gostamos. Por isso entramos e bebemos do chá que nos fazes enquanto as palavras se nos soltam e as conversas se propagam pela noite que resolvemos acarinhar só porque o teu nome nela estava escrito.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

...zarrão





























papel cenário ~ 150cm x 100cm

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Transformar um alicate num espaço...

(maquetização - escala 1:250)

Home

Considerações de início de madrugada...

Ultimamente tenho pensado sobre a minha casa. Onde é a minha casa? Falta-me. Talvez saiba onde fica, em quem fica, mas por ora resta-me a impossibilidade de nela entrar. Tenho que esperar até que a porta abra de novo para me acolher.

A minha casa não tem que ser a casa onde fisicamente me deito todos os dias. Não é. Sei que implica um alguém porque eu só, não sou casa. A minha casa, a verdadeira casa, é metafísica. Não basta que ela me agrade estruturalmente nem que tenha determinados objectos – é a minha porque eu sinto nesse espaço que me agrada que me pertence e que vivo nela. Amanhã essa casa poderá não me pertencer como o meu corpo lhe pertence empiricamente – talvez como um stand by – o objectual fica à espera que o volte a sentir como meu e vital para mim e isso dependerá sempre da forma como estou a sentir a casa – o objectual é como um complemento físico na construção do mundo.

(...)





Home - the Smashing Pumpkins

Espaço metafísico por palavras

O meta-espaço é um espaço que vai para além do que implica directamente o corpo físico. Ele não existe efectivamente no que respeita às sensações físicas. Existe no mundo de cada um, é sentido pelo corpo inteligível que, consequentemente, pode transmitir ao corpo físico mensagens concretas desse espaço, fazendo-o parecer, quase por engano, real – real por poder ser sentido empiricamente. O contrário pode também ser válido, aliás, pode até ser compreendido mais facilmente do que o caso anterior. Ou seja, do meta-espaço surge uma experiência física que transporta automaticamente para o campo mental um ambiente recriado, irreal. Deste modo, o objecto marcante passa a ser uma distorção desse mesmo espaço, interpretado segundo a vivência de uma determinada pessoa até ao dado momento. É, por si só, desprovido de emoções, pelo que nunca é aquilo que realmente é – puramente físico. Nós construímo-lo dentro do nosso mundo individual e, segundo o que apreendemos e compreendemos, passamos a considerar que, entre as quatro paredes que o poderão delimitar, há toda uma existência. O espaço só é espaço porque contém as nossas percepções, sem que as contenha concretamente.

(...)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Eu fugi de casa e agora não posso voltar.
Será que tenho uma perdição pelo nome Sofia?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Quantos de vós poderão dizer tal coisa?

Ser igual na diferença de ser outro ser por não poder (salve-se metafisicamente?) ser o outro. Ser igual sendo diferente sem perceber que diferença habita o espaço comum. Pergunto-nos, que diferença? Ser, não igual, mas comum, ser o aconchego mútuo ou inteiramente o espaço comum onde se habita. És-me a gota que desfalece pelo olho abaixo como te sou o golo de água revitalizante do início da tarde. Amanhã serei a tua gota e tu escorregarás pela minha goela, porque ser é ser-se. Ser não é só ser, porque ser simplesmente não é possível sem ter sido para ti ou me tenhas sido para mim. Tu e tu e tu. E ser é saber que me reconheces por seres também e eu sentir que és. Mas sermo-nos é espaço ilimitado.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Os três pauliteiros da distorção



É o que dá descobrir o Photo Booth...














Semfusão - e o parvo a pensar que sim

Podia ir deitar-me, mas é confuso pensar que me vou deitar. Queria ficar mais tempo no ritmo caminhante do dia, mas só me resta a força de descair a água dos olhos. Tu bem sabes como sou parvo por pensar que sim quando não me dizes que não. Sempre o mesmo – até morrer? É triste sofrer sempre as mesmas palavras.


É confuso, é confuso todo o caminhar pelas ruas quando só se pensa em voltar para trás onde se deixou a razão. Ou a quem se deixou a espontânea emoção.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Viva a estupidez.

Como é que posso continuar a fazer de conta que não? Tenho aquele vício de dizer o que tenho a dizer quando ninguém quer saber o que tenho a dizer ou fazer os outros querer ouvir tudo menos aquilo que não quero dizer mas me sai. Bem, o que eu quero mesmo dizer, é que ultimamente só me apetece dizer-vos aquilo que menos sentido pode fazer aparentemente e, como tal, isto que vos digo já parece não fazer qualquer sentido. Sabendo que, quando digo o que estou a dizer, é por mero facto de sentir e querer estar presente neste mundo, as entrelinhas desta trapalhada são evidentes. Mas também se pode dar o caso de eu vos tentar enganar por me enganar a mim e escrever as entrelinhas que, na verdade, não existem. O que é facto é que, se não existem, parecem-me existir e, portanto, estou a escrever-vos, não por vos querer enganar, mas por sentir aquilo que escrevo como resultado daquilo que o mundo me faz sentir. Querer estar presente neste mundo não é querer estar com os pés assentes no planeta Terra, porque isso, isso nunca irá acontecer realmente, por mais que queira e haja quem critique o meu vôo constante. Querer sentir e estar presente neste mundo, este, aquele que nos é comum e o qual agrega todos os outros e nossos, é querer viver em dois espaços: em mim e no mundo que, supostamente, todos conhecemos. Viver em mim não tem sido tão difícil assim, nos últimos tempos, mas tenho-vos a dizer que já houve momentos em que não era capaz - não me pergunteis quando, porque já não me lembro ( há coisas que mal parecem fazer parte do meu mundo, ainda que, em determinados momentos, pareçam marcas inesquecíveis e perigosas). Viver em mim tem sido quase o sufoco de me aturar incessantemente, sem perceber esse sufoco e instaurando essa culpabilidade na presença dos outros. Ora, o que acontece é que o meu mundo sofre a tentação de se expandir e fazer a minha pessoa tentar habitar o mundo comum. Não quero estar a afirmar tudo isto convictamente, mas é assim que, hoje, assimilo as coisas. Habitar o mundo comum não é só habitar o mundo comum: é peso de viver em alguém exterior e o desgosto de ouvir o que os outros nos têm para dizer, mesmo não falando, lamentando que não nos digam aquilo que as nossas entrelinhas escrevem.


É quase como querer dizer ao mundo exterior a mim que também quero tentar viver para além do meu, como fazem os demais.

sábado, 8 de novembro de 2008

Problemas...

Ontem espetei três garfos num naco de madeira. Não sei que raio lhes deu aos garfos que quando os tirei para fora, tinham entortado. Peguei num cutelo e empenei mais os garfos, confiante na resolução do problema. Claro está que o cutelo, para além de ter empenado definitivamente os garfos, acabou por ficar com a lâmina dentada ou desdentada, como preferirem. Gengiva que antes era lisa e agora está gravemente danificada. À custa disso, lembrei-me que trago um dente a abanar, tal que é a saúde da dentadura. Mas o que me preocupa mais é realmente esta quantidade louca de bichos patudos, inofensivos e mortos que se situam aleatoriamente pelo chão da casa. Raio nos miúdos que me trazem para cá o bichos. Pronto, já meti as rãs cá dentro de casa, pode ser que os comam – será necrofagia? Mas as rãs...

Luz

Ela é o sol que me inunda a casa e transparece o olhar. É o arcaboiço de um mundo que nunca vou esquecer de lembrar. É-me a mim como a si se interroga sobre o que é a luz. Talvez não seja tão grande como o mundo, mas é do mundo que conheço. É como um anjo que tombou do altar quando lhe deixaram de colocar flores. O meu peito cheio de ar e triste de sorrir ao tempo que passa. E pelo meio quero morrer enquanto penso sobre o que realmente me atrai ao chão – será o campo gravitacional. Morro cinco ou seis segundos e sorrio na inocência de tentar perceber o que é. Sou eu numa brutalidade intra-uterina. É a pena que tenho dos demais. É a luz que me abre os olhos querendo eu fechá-los para poder pensar. É o que é.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Esquecer

Queria ser terrível e esquecer o amor.

Esquecer que preciso dele para escrever,

escreva a sua presença ou ausência.

Queria não conseguir pensar sequer –

não imitar os deuses,

não imitar o calor dos corpos

nem o castigo dos mortos.

Queria esquecer

que um dia tive que nascer para poder morrer.

Esquecer

que um dia tive que amar para poder perder

aquilo que tenho hoje como espaço negativo,

sumido.

Queria esquecer o amor e deitar-me na rua do colchão despido.

Ouvir o que o ar me diz

e não o que o peito me martela – amor.

Ouvir aquela que passa agarrada ao vento

e copiar-lhe os traços em movimentos aéreos.

Esquecer que me bato,

que me existo e existir

somente para poder sentir.

Queria ser terrível e matar o amor como ele me mata a mim.

Ser capaz de comer pele sem que me comam o peito.

Terrível, terrível.

Comer as rosas

sem espetar os espinhos.

Comer garfos e facas sem pensar

que cortam e picam,

sem pensar que um dia me vão desarmar,

sem pensar.

Quero comer até esfaquear.

Quero partir e consumir

e partir.

Mas eu não consigo partir depois de consumir.

Que terrível que é partir antes de ter chegado.

Partir para ser lembrado.

Esquecer que o amor é para os grandes

e ficar cá em baixo, amando.

Mas não, eu não amo

e terrível é a minha espera,

agora consciencializada.

Esperar que nunca me peçam a pele e eu queira dar o mundo.

Espero a sua pele e o mundo.

Espero, terrível.

Espero a pele sem facas,

somente.

Quero saber esperar somente a pele

e esquecer o meu peito esfaqueado.

Esquecer o meu peito,

morto ou não,

esquecê-lo.

sábado, 1 de novembro de 2008

Quando é que te lembraste da fruta?

E houvesse o sentido entre os pensamentos

que me acrescentam emoções.


Houvesse a tenra idade da fruta

sido descascada como manda o antigo regime

que deixou de mandar quando dos padres

passou a surgir o pecado,

cumprido ou não (espere-se o cumprimento),

De não procriar.


Se todo o mundo fosse padre

e todo o padre fosse não pecador pecador,

não havia já mundo,

tamanho que era o pecado

e insistência na aniquilação humana.


Fazem amor com a virgem,

a virgem impregna o pecado subentendido.

(Bendita virgem que permitiu que nascesse um bebé.)


Ainda há os ditos seres humanos,

padres pecadores que desembrulham o seu fruto,

Os seres humanos que asseguram a prevalência da espécie.

Mas mais que pecadores são os que não podem,

sem artificialidade,

Rebentar um bebé pelas costuras.


Alguns são a aberração,

alguns são padres.

São virgens,

Dos rochedos, dos bebés.


Frutos que produzem

frutos que matam a humanidade.

Em minoria, mas sempre muito pecadores.

Credo.

domingo, 21 de setembro de 2008


























Setembro de 2007 . Fotografia analógica





quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Solda-lhe o peito

Desenrasca-te, soldado

Armadilhado, desestruturado

Embrulhado na destreza do sentir

(da dor)

mergulhado no líquido vital

 

Pensa no mar de arremessos e torturas, no mar

Na vergonha de lutar por este fim

e encadeamento de vestes rasgadas

Unidas por nós entre si, unidas pelo sangue sem fim

e o calor da penetração

para o outro lado do coração.

Morre, morre, que o dia vai acabar

Não lutes contra vendavais

Perdidos

Perdidos

Perdidos

As pedras do mundo em sufoco.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

vértice

Escrevo na vertical, mas não sou ninguém.
Às vezes escrevo na vertical,
assim
para
baixo,
contudo não tenho nome daqueles que escrevem
na vertical e bem.
Escrevo mal, escrevo o que tenho
e o que não tenho
por ser
triste.
Não triste de ser mais,
de ser demais,
de ser. Triste
de ser triste triste, de nunca ser demais.
Cada um nasce triste à sua maneira
e eu,
escrevo na vertical, por vezes,
não por querer ser triste demais,
mas sim por ser de um triste
que traz na espontaneidade
alguma verticalidade.

ia

Da secura dos lábios alheios,
a mim prendo os movimentos inaudíveis,
como palavras sem cor
e ditongos mal soados.

Trato de ver a simplicidade dos movimentos,
um teatro
mudo sem personagens.
Um cenário seco,
dois tombos de um corpo que mal se levanta

e do corpo já só reconheço o silêncio.
Não é de ninguém,
mas lembra-me
o ditongo dos nossos nomes.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

No silêncio das 4 e tal da manhã:

A minha mamã é o mundo.
É o mundo, e às vezes parece que me esqueço,
parece que me esqueço
quando o mundo começa a ser outro alguém,

esqueço-me que a mamã
continua a ser o mundo
por trás de todos os outros.

domingo, 13 de julho de 2008

As mulheres e os dinossauros

(...)
Na época em que os dinossauros devastavam a terra e das mulheres ressurgia o grito maléfico do âmago inferior, a procriação alimentava-se a si mesma como rima de poesia mal escrita, e ouvia-se bem. Diziam eles que se ouvia bem. Quase não se ouvia e do pouco que se ouvia, ouvia-se com prazer e ainda se matava, como se as rimas não fossem já o prelúdio da matança. Os dinossauros passeavam-se na atmosfera social e não sabiam ainda o que era ser-se. Ai, eu gosto muito de gritar as vestes que a minha mulher traz, nem tenho eu outro prazer que não seja conspurcar-lhe as vestes. Mando-lhe tirar a mesa como se a minha vida dependesse disso e dispo-a quando as marteladas dos gritos não me chegam. Ainda os dinossauros mascavam folhas das nespereiras megalómanas, já o vento corria selvagem em velocidade contemporânea e as portadas das janelas corriam-se num reboliço automático. Ninguém quer saber do vento, ninguém quer saber do que não há mais para consumir em dentadas arrastadas. Os reis guincham com a razão que a mulher não tinha e todos os dinossauros os saúdam. As mulheres preferem o limão maduro e descascado às folhas que eles mascam como se não houvesse amanhã: mas ele há.
Olhai que não tenho outro tema de conversa e se quereis mascar, ide para onde o sol já não nasce e sentai-vos ao fundo das escadas, que ao cimo não chegais. Amanhã nasce um de um ovo de enamoramento. As condições circunstanciais aterram vindas de há um centenário atrás. Pouco te importa ou nada que assim seja. Venha o ovo a nós e das mulheres se retire a roupagem só porque sim: porque me apetece agora. Ai poeta que o teu prisma me enforcou. Mas sou eu um dinossauro sem pele que mastiga os embriões sem fim. E vós a senhora das terras que nunca vendi, porque eles aprenderam a não atacar. Eu tiro a mesa, hoje. Ainda houve tempos em que soube sair da pré-história, enquanto cá estivestes, se ainda vos lembrais. Deixai-me arrastar as muletas para o poço último da secção. Não sei se ainda trago comigo os livros das lombadas nobres, mas se não trago, ainda os tenho. O vosso não tem cor nem capa, nem tratei da paginação. O seu, senhora de todos e de um só, arbitra-me os jogos de pensamentos a torto e a direito. E que gesto de imparcialidade promotora estendeis ao mundo e àquele que me toca. Trama-me o chão, dobra-o, encosta-lhe os medos e prende-me porque me vou sem querer. Sem quereres tu, poeta de uma figa, e eu vou. A idade dos dinossauros carbonizou-se depois de tanto arder no fogo que nunca queimou. E eu lembro-me de quando me traziam a bandeja à mesa e reforçava o café que me estonteava o organismo - tinha eu prazer em engoli-lo impetuosamente, tal como os dinossauros de um antigamente quase recente, como quem não tem satisfações a dar, como vós.

Vai-me comprar fósforos que o mundo se vai a acabar.
(...)

Excerto de A mesa, deixei-a posta de mim

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Mais uma, longa demais

Tu eras o mundo quando as crianças brincavam lá fora
Quando dos pássaros distinguia as melodias que imitava.
Eras o mundo quando a primavera nos cobria de verde
E do verde do céu me surgiam os teus cabelos escuros
Que me enlaçavam a ti e nos visitavam entre os lábios
Colados.

E as noites agora vão longas,
Vai esta, foi aquela,
Longas demais
E encurtá-las, não sou capaz.
Ficaram longas de tanta espera,
Velhas,
Ficam ainda mais velhas
As noites que me disseram Adeus.

quinta-feira, 3 de julho de 2008


quarta-feira, 2 de julho de 2008

Não sei se o que ouço é o que ouço


terça-feira, 1 de julho de 2008

Mi menor que as noites

noites em Mi menor

As ruas guiavam-me ao teu encontro
desde que te vi, desde que vi em ti o meu sonho,
desde que o meu entre começou a sentir
de novo,
algo novo.

Chorava os teus olhos
na inocência que corria em mim.
Chorava o teu olhar no meu
como se, pela primeira vez,
tivesse chorado
e não soubesse que as lágrimas não caem só
pela dor atada, agora, a mi.

Levava-te comigo
em cada segundo que passava,
até teres deixado de andar comigo
(os segundos não passam.)

Cobria os afazeres com a tua presença,
com a tua presença mental e fazia
os afazeres
numa pressa tal
que pouco me importava
porque me importava levar-te
onde mais ninguém te levaria.
Agora já não tenho afazeres.

Se eu soubesse ao menos a minha dor
se a soubesse ao menos ler,
mas dos teus olhos já não me vem
nem o choro de não saber chorar,
a não ser para me desfazer
nas noites em que não sei onde ir.
Já não há que fazer
aqui, onde as invasões me levam
o cerne e o invólucro
da cidade que afinal não tive
porque quando acordei,
já as terras tinham desabado e com elas,
as ruas que um dia pisámos.

Chorava os teus olhos
na inocência que sempre correrá em mim,
não fosse eu a criança que nunca tinha sido,
e aprendi
a tempo de saber chorar-te os gestos.

Da incompreensão das noites,
vai-me mais um espaço de dentro,
vão-me tantos espaços
que já não há espaço lá fora
que me sirva cá dentro.

Das minhas sete vidas,
sete noites mortes.
Duas me restam
até que se me acabem:
sem rima
sem ar
sem choro
sem uma palavra
tua.
Sem o teu olhar.

Sobra uma,
uma,
uma.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Mãe, deixa-me voltar...




domingo, 22 de junho de 2008

'Vais apanhar o senhor a correr'

e desenho no vidrado da noite que me desampara,