terça-feira, 25 de novembro de 2008

Quantos de vós poderão dizer tal coisa?

Ser igual na diferença de ser outro ser por não poder (salve-se metafisicamente?) ser o outro. Ser igual sendo diferente sem perceber que diferença habita o espaço comum. Pergunto-nos, que diferença? Ser, não igual, mas comum, ser o aconchego mútuo ou inteiramente o espaço comum onde se habita. És-me a gota que desfalece pelo olho abaixo como te sou o golo de água revitalizante do início da tarde. Amanhã serei a tua gota e tu escorregarás pela minha goela, porque ser é ser-se. Ser não é só ser, porque ser simplesmente não é possível sem ter sido para ti ou me tenhas sido para mim. Tu e tu e tu. E ser é saber que me reconheces por seres também e eu sentir que és. Mas sermo-nos é espaço ilimitado.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Os três pauliteiros da distorção



É o que dá descobrir o Photo Booth...














Semfusão - e o parvo a pensar que sim

Podia ir deitar-me, mas é confuso pensar que me vou deitar. Queria ficar mais tempo no ritmo caminhante do dia, mas só me resta a força de descair a água dos olhos. Tu bem sabes como sou parvo por pensar que sim quando não me dizes que não. Sempre o mesmo – até morrer? É triste sofrer sempre as mesmas palavras.


É confuso, é confuso todo o caminhar pelas ruas quando só se pensa em voltar para trás onde se deixou a razão. Ou a quem se deixou a espontânea emoção.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Viva a estupidez.

Como é que posso continuar a fazer de conta que não? Tenho aquele vício de dizer o que tenho a dizer quando ninguém quer saber o que tenho a dizer ou fazer os outros querer ouvir tudo menos aquilo que não quero dizer mas me sai. Bem, o que eu quero mesmo dizer, é que ultimamente só me apetece dizer-vos aquilo que menos sentido pode fazer aparentemente e, como tal, isto que vos digo já parece não fazer qualquer sentido. Sabendo que, quando digo o que estou a dizer, é por mero facto de sentir e querer estar presente neste mundo, as entrelinhas desta trapalhada são evidentes. Mas também se pode dar o caso de eu vos tentar enganar por me enganar a mim e escrever as entrelinhas que, na verdade, não existem. O que é facto é que, se não existem, parecem-me existir e, portanto, estou a escrever-vos, não por vos querer enganar, mas por sentir aquilo que escrevo como resultado daquilo que o mundo me faz sentir. Querer estar presente neste mundo não é querer estar com os pés assentes no planeta Terra, porque isso, isso nunca irá acontecer realmente, por mais que queira e haja quem critique o meu vôo constante. Querer sentir e estar presente neste mundo, este, aquele que nos é comum e o qual agrega todos os outros e nossos, é querer viver em dois espaços: em mim e no mundo que, supostamente, todos conhecemos. Viver em mim não tem sido tão difícil assim, nos últimos tempos, mas tenho-vos a dizer que já houve momentos em que não era capaz - não me pergunteis quando, porque já não me lembro ( há coisas que mal parecem fazer parte do meu mundo, ainda que, em determinados momentos, pareçam marcas inesquecíveis e perigosas). Viver em mim tem sido quase o sufoco de me aturar incessantemente, sem perceber esse sufoco e instaurando essa culpabilidade na presença dos outros. Ora, o que acontece é que o meu mundo sofre a tentação de se expandir e fazer a minha pessoa tentar habitar o mundo comum. Não quero estar a afirmar tudo isto convictamente, mas é assim que, hoje, assimilo as coisas. Habitar o mundo comum não é só habitar o mundo comum: é peso de viver em alguém exterior e o desgosto de ouvir o que os outros nos têm para dizer, mesmo não falando, lamentando que não nos digam aquilo que as nossas entrelinhas escrevem.


É quase como querer dizer ao mundo exterior a mim que também quero tentar viver para além do meu, como fazem os demais.

sábado, 8 de novembro de 2008

Problemas...

Ontem espetei três garfos num naco de madeira. Não sei que raio lhes deu aos garfos que quando os tirei para fora, tinham entortado. Peguei num cutelo e empenei mais os garfos, confiante na resolução do problema. Claro está que o cutelo, para além de ter empenado definitivamente os garfos, acabou por ficar com a lâmina dentada ou desdentada, como preferirem. Gengiva que antes era lisa e agora está gravemente danificada. À custa disso, lembrei-me que trago um dente a abanar, tal que é a saúde da dentadura. Mas o que me preocupa mais é realmente esta quantidade louca de bichos patudos, inofensivos e mortos que se situam aleatoriamente pelo chão da casa. Raio nos miúdos que me trazem para cá o bichos. Pronto, já meti as rãs cá dentro de casa, pode ser que os comam – será necrofagia? Mas as rãs...

Luz

Ela é o sol que me inunda a casa e transparece o olhar. É o arcaboiço de um mundo que nunca vou esquecer de lembrar. É-me a mim como a si se interroga sobre o que é a luz. Talvez não seja tão grande como o mundo, mas é do mundo que conheço. É como um anjo que tombou do altar quando lhe deixaram de colocar flores. O meu peito cheio de ar e triste de sorrir ao tempo que passa. E pelo meio quero morrer enquanto penso sobre o que realmente me atrai ao chão – será o campo gravitacional. Morro cinco ou seis segundos e sorrio na inocência de tentar perceber o que é. Sou eu numa brutalidade intra-uterina. É a pena que tenho dos demais. É a luz que me abre os olhos querendo eu fechá-los para poder pensar. É o que é.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Esquecer

Queria ser terrível e esquecer o amor.

Esquecer que preciso dele para escrever,

escreva a sua presença ou ausência.

Queria não conseguir pensar sequer –

não imitar os deuses,

não imitar o calor dos corpos

nem o castigo dos mortos.

Queria esquecer

que um dia tive que nascer para poder morrer.

Esquecer

que um dia tive que amar para poder perder

aquilo que tenho hoje como espaço negativo,

sumido.

Queria esquecer o amor e deitar-me na rua do colchão despido.

Ouvir o que o ar me diz

e não o que o peito me martela – amor.

Ouvir aquela que passa agarrada ao vento

e copiar-lhe os traços em movimentos aéreos.

Esquecer que me bato,

que me existo e existir

somente para poder sentir.

Queria ser terrível e matar o amor como ele me mata a mim.

Ser capaz de comer pele sem que me comam o peito.

Terrível, terrível.

Comer as rosas

sem espetar os espinhos.

Comer garfos e facas sem pensar

que cortam e picam,

sem pensar que um dia me vão desarmar,

sem pensar.

Quero comer até esfaquear.

Quero partir e consumir

e partir.

Mas eu não consigo partir depois de consumir.

Que terrível que é partir antes de ter chegado.

Partir para ser lembrado.

Esquecer que o amor é para os grandes

e ficar cá em baixo, amando.

Mas não, eu não amo

e terrível é a minha espera,

agora consciencializada.

Esperar que nunca me peçam a pele e eu queira dar o mundo.

Espero a sua pele e o mundo.

Espero, terrível.

Espero a pele sem facas,

somente.

Quero saber esperar somente a pele

e esquecer o meu peito esfaqueado.

Esquecer o meu peito,

morto ou não,

esquecê-lo.

sábado, 1 de novembro de 2008

Quando é que te lembraste da fruta?

E houvesse o sentido entre os pensamentos

que me acrescentam emoções.


Houvesse a tenra idade da fruta

sido descascada como manda o antigo regime

que deixou de mandar quando dos padres

passou a surgir o pecado,

cumprido ou não (espere-se o cumprimento),

De não procriar.


Se todo o mundo fosse padre

e todo o padre fosse não pecador pecador,

não havia já mundo,

tamanho que era o pecado

e insistência na aniquilação humana.


Fazem amor com a virgem,

a virgem impregna o pecado subentendido.

(Bendita virgem que permitiu que nascesse um bebé.)


Ainda há os ditos seres humanos,

padres pecadores que desembrulham o seu fruto,

Os seres humanos que asseguram a prevalência da espécie.

Mas mais que pecadores são os que não podem,

sem artificialidade,

Rebentar um bebé pelas costuras.


Alguns são a aberração,

alguns são padres.

São virgens,

Dos rochedos, dos bebés.


Frutos que produzem

frutos que matam a humanidade.

Em minoria, mas sempre muito pecadores.

Credo.