segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Viva a estupidez.

Como é que posso continuar a fazer de conta que não? Tenho aquele vício de dizer o que tenho a dizer quando ninguém quer saber o que tenho a dizer ou fazer os outros querer ouvir tudo menos aquilo que não quero dizer mas me sai. Bem, o que eu quero mesmo dizer, é que ultimamente só me apetece dizer-vos aquilo que menos sentido pode fazer aparentemente e, como tal, isto que vos digo já parece não fazer qualquer sentido. Sabendo que, quando digo o que estou a dizer, é por mero facto de sentir e querer estar presente neste mundo, as entrelinhas desta trapalhada são evidentes. Mas também se pode dar o caso de eu vos tentar enganar por me enganar a mim e escrever as entrelinhas que, na verdade, não existem. O que é facto é que, se não existem, parecem-me existir e, portanto, estou a escrever-vos, não por vos querer enganar, mas por sentir aquilo que escrevo como resultado daquilo que o mundo me faz sentir. Querer estar presente neste mundo não é querer estar com os pés assentes no planeta Terra, porque isso, isso nunca irá acontecer realmente, por mais que queira e haja quem critique o meu vôo constante. Querer sentir e estar presente neste mundo, este, aquele que nos é comum e o qual agrega todos os outros e nossos, é querer viver em dois espaços: em mim e no mundo que, supostamente, todos conhecemos. Viver em mim não tem sido tão difícil assim, nos últimos tempos, mas tenho-vos a dizer que já houve momentos em que não era capaz - não me pergunteis quando, porque já não me lembro ( há coisas que mal parecem fazer parte do meu mundo, ainda que, em determinados momentos, pareçam marcas inesquecíveis e perigosas). Viver em mim tem sido quase o sufoco de me aturar incessantemente, sem perceber esse sufoco e instaurando essa culpabilidade na presença dos outros. Ora, o que acontece é que o meu mundo sofre a tentação de se expandir e fazer a minha pessoa tentar habitar o mundo comum. Não quero estar a afirmar tudo isto convictamente, mas é assim que, hoje, assimilo as coisas. Habitar o mundo comum não é só habitar o mundo comum: é peso de viver em alguém exterior e o desgosto de ouvir o que os outros nos têm para dizer, mesmo não falando, lamentando que não nos digam aquilo que as nossas entrelinhas escrevem.


É quase como querer dizer ao mundo exterior a mim que também quero tentar viver para além do meu, como fazem os demais.

4 comentários:

  1. Sou feliz hoje por poder dizer que as minhas mãos são a minha emotividade, mesmo que o tacto tu não o sintas (por completo).
    O que realmente quero dizer (e não quer dizer que to diga) é que não é para te enganar que aqui estou. Mas para contrariar um silêncio imposto que me desfaz o meu carácter na forma de limites automaticamente impostos pelo comum. Mas tu não sabes disso mesmo agora que to disse.
    Assim, sabes que li mas, desconhecendo a minha identidade, será que darás valor?

    Viva a vontade de sermos quem somos.

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  2. Dou valor pelo menos pelo facto de saber que afinal há mais de seis ou sete pessoas que me lêem, ainda que não escreva muito nem grande coisa. Dou, naturalmente, valor por seres tu como dou aos outros, mas essa coisa de valores tem muito a ver com o que me passa cá dentro e a forma como sinto o outro. Não sei que nome trazes, mas deixas-me intrigada.

    Já quebraste o silêncio, continua.

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  3. O nome que trago é o que sentes. Talvez seja hora de mo dizeres.


    Sorrio e rio e fico feliz por me teres respondido. Permitiste a minha entrada e acho que me sento no sofá e vou ficar aqui na semi-obscuridade, com duas asas em cada ponta dos dedos.
    O valor, para mim, está aqui. Nesta semi-obscuridade. Indulgente.

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  4. Não to direi enquanto não te souber. De qualquer forma, nunca foi meu forte atribuir nomes ao que quer que fosse, nunca foi um grande interesse. Sabê-los mais do que dá-los.

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