sábado, 31 de outubro de 2009
Queria escrever um texto bonito mas não sou capaz porque nada é bonito quando não se faz aquilo que se diz querer fazer. Queria saber por onde começar mas não há começo porque quando damos conta já estamos lá dentro. Queria dizer amor com as palavras mas não sei como as palavras podem dizê-lo. Digo apenas que me matas e que quero morrer bem fundo. Que me salvas, me apanhas ( ).
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Roubo dôo
Diz-me que sabes sentir, diz-me que sabes sentir o que digo, diz-me que sabes sentir o que digo não saber sentir, diz-me o que sabes que eu sou, diz-me o que sabes que é sentir, diz-me que sabes dizer-me o que é sentir, diz-me que sabes fazer-me sentir, diz-me que vais saber fazer-me sentir, que vais fazer sentir-me, que vou sentir-te, que sentes que vou aprender a sentir, que sentes que vou saber sentir, diz-me que sabes que sinto, diz-me que sabes que eu sei que sinto, diz-me que sabes que dói, diz-me como sabes que dói, diz-me que saber que dói é saber sentir, que se sente o que dói e o que não dói, que dói e nem sempre se sente, que se sente e há tanto que não dói, que te dói tanto como o que sinto, que sentes tanto como o que me dói, que me dói o peito, que sei doer e que sei o que é doer, que dói a carne e a cabeça, que a vida não dói, que a vida é sentir, que sentir é saber que se vive, que sentir é querer roubar-te, que sentir é roubar-te, que sentir é não poder roubar-te, que é querer nunca te roubar, roubando-te, que
continuo
quando ela diz que não dói
dói a cabeça
quando parece que expulso a dor
dói a cabeça
dói mas continuo
faço tudo
faço mal e bem
faço até não poder mais
e tenho podido sempre
a doer de tontura
faço e deixo doer
deixo doer por ter que fazer e ter que fazer
e dói, mais ainda
ainda que por momentos pense muito
pense tanto e deixe de sentir a dor
mas depois penso tanto tanto que ela dói
e volto a dar conta que dói
que ainda dói
que tudo dói
e que continuo
porque tenho que continuar
doendo o mundo inteiro
trago o mundo ao peito
e de que serve um peito sem cabeça
peito dói porque a cabeça dói
e a cabeça dói porque o peito dói
e tudo se embrenha em dor
mas eu continuo
e escrevo e durmo
dentro da dor
por baixo, de lado
ela está sempre aqui
Ela está sempre aqui.
sábado, 24 de outubro de 2009
24 chuvas
chuva dentro, chuva lá fora
chove tanta chuva que não consigo gostar dela
que só contigo gosto dela
Chove
e eu, mãe dela, da que me chove cá dentro
deixo-me fria, chuvosa
chuvoso o peito
de quem chora chove
e chove chove
tanta chuva
Chuva que molha
que me molha os dedos e me afunda os olhos
vivos, tão vivos como peixes fora de água
quem lhes dera a chuva a criar poça
e a minha chuva dentro duma poça
e eu peixe à chuva
chuva que molha e não mata
que queima e não seca
Não seca esta chuva
chuva que nasce do meu peito chuvoso
que nada mais nasce, já não nasce
deste ventre inútil
cheio de chuva a cair
não há vento que não te traga
e me caia com chuva que arde
fundo no meu peito molhado
qual montanha inundada
qual mar de sargaços
chuva que choves por dentro
chuva que me levas contigo
me levas contigo
me levas contigo
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
eme e jota
domingo, 18 de outubro de 2009
Pulso.2 (3/4)
E quando não se respira
deforma-se a percepção
Tudo se torna pesado dentro do pescoço inchado
Sufoco entre vasos sanguíneos dilatados
músculos que saltam e as ruas secam
O sol brilha lá fora
As mãos secas
secas desertas
cheias de afazeres
de enganos sobre a vida
sobre a temperatura lá de fora
Quando é que arrefece ou aquece
enquanto se parte para longe
perto de todo o coração
na fronteira do corpo
para lá do tempo
para lá, tão para lá que já é tempo
Vai morrer longe de mim
Tempo.
Nada flui integralmente pelo arcaboiço
e tem que estar tudo bem
porque tudo bem é viver
mas viver está fora do tempo
e o tempo volta a queimar
arda-se ou não
Parto os pulsos, nossos alicerces
nossos atempos
morre-se sem morrer
e vive-se sem pensar que se vive
que a terra não volta e o vento é demais
e se escreve o que não se quer dizer
Tudo é impróprio de se dizer
tudo é fraco de se mexer
Não me chateeis
não me agarreis os pulsos quando eles não são alimentados pelo coração.
Comestes os vossos?
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
Que diabo
O papel voa, voa, mas nunca é livre. Nunca nada é livre, alguém acha que alguma coisa é livre Não é possível porque nada pode ser tudo. E tudo se resume a isto. A árvore não anda, o pássaro não voa para fora da atmosfera, eu não respiro dentro de água e tu não podes viver debaixo da terra. Afinal o que é livre Nada. Nem o ar, nem o sol, quanto mais tu Não és livre de pensar porque tens sempre barreiras. Não notas, não é Não há nada que seja livre e andamos aqui nós feitos parvos a falar da liberdade. E dentro dos meus limites vitais Então leva-me à lua. Ah não levas Não sou astronauta e deus não vive nem nunca viveu nem nunca há-de viver nem nunca há-de ser sequer tanto como eu sou ou tu. Repara nas coisas. Repara que nada é livre e que não há nenhuma besta no meio das nuvens a espreitar-te quando dizes merda. E que não há nada depois de deixares de respirar. Nulo, é tudo nulo. Ouviste Nada, não é nada.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Mudez
Sinto-a ao longe mas os olhos não me deixam saber que é ela. Fico indecisa, tonta, numa perdição tão espontânea quanto os batimentos que quase me partem os ossos com as pancadas. Tenho que ir. Mas porque terei eu que ir Mas vou, salto, corro, corro quase procurando um olhar de reprovação nos que passam que nada me importa. Corro, mas perco-a. Dou duas voltas e perco-a, outra vez. Mais uma vez que na cara me rebentam os tecidos por dentro sem ninguém ver. Sei que estais por ali sempre que chamo porque quando já não chamo é porque sinto que já fostes. E chamai-me o bicho mais patético do universo que não me importa, já nada me importa, eles gozam, riem, brincam e eu, dinossauro pequeno, deixo-me calada porque já nem voz tenho. Pequeno, feio, podre, podre de paixão que dói até dentro das veias, que me tira a paz, serenidade se é o que vedes e não sabeis que rios correm cá dentro, com que fúria, com que correntes turbulentas e param, num de repente que até me rio. Rio, rio muito como se tudo tivesse uma graça doida, tenho cá uma graça doida. Louca, louca, fico louca, estou doida varrida, histérica. Muda numa mudez apaixonada fora do tempo, fora de tempo, longe da terra, do mar, desconcertada do mundo. Sem respirar, não me deixais respirar, presa doida, presa às ruas que já não lhes conheço o rumo. Presa ao não saber estar. Presa à perdição que é procurá-la em cada olhar, canto, janela. Que me fazieis livre, sonhar, dentro do ser-comigo-mais. Assim me fico, farta de me ter e de não saber nem conhecer. Quando tudo o que me escorre pela cara é ir a toda a parte e agora toda a parte é triste, medonha. Medo, tenho medo de sair, de abrir as guelas, bracejar para o mundo inteiro. Medo de rir, rir muito, medo de libertar o que me rebenta cá dentro a não ser para mim que ainda mais preso fica, mais preso fica. Neste texto que aqui tudo fica preso, nada grito, tudo me ferra e eu deixo e contenho a angústia e o furor. Ser só é não saber pedir deixem-me gritar, é pensar estou a arder e saber que estou a gelar, é o coração bater por querer sair aqui para fora para dentro dela. Ser só é a paixão que sou. É correr, correr até ao fim da rua quando sei que lá estais; é fixar um ponto no horizonte a meio de uma mudança de órbita porque a bússola deixou de dar o norte e os reinos me dizem que fostes, dona do meu vestido secreto. E vós continuais, árvores enraizadas, a ouvir o meu silêncio quando o que quero é correr, ir a correr. O problema é não poder correr. O problema é não saber falar. O problema é não queimar o peito. O problema é saber que quero sonhar. O problema é ter que me matar. O problema é cair nos vossos braços sabendo que quero correr. O problema é não existir realmente um problema. O problema é ser mulher. É ter paixão sem ter coração e corpo onde metê-la toda. É ter corpo. É, meu amor, saber correr.