quarta-feira, 25 de junho de 2008

Mãe, deixa-me voltar...




domingo, 22 de junho de 2008

'Vais apanhar o senhor a correr'

e desenho no vidrado da noite que me desampara,


sexta-feira, 20 de junho de 2008

Guardiã da madrugada

Vais apanhar um cão a correr

Perco-me no meio das traças e vestidos velhos que nunca usei. Debaixo de mim, o trépido mosaico riscado, do qual me esqueci durante tempos. Esqueci-me dos riscos que nele fizeram, que nele fiz. Das lascas que dele saltaram quando a força do riscar quase partia os seus alicerces, quase me partia o mundo: partiu-mo.
Partiu-se-me, como mais ninguém havia de mim partido. Nas lascas, tão podres e imundas quanto as minhas entranhas revestidas à casca da dor verde, colam-se as vestes que se me rasgam e deixo-me ver, por olhos que mal trago por mos quererdes roubar de vez: levai-os que mais que míope não presta. Olhos de cão com focinho ao vento, à espera que ele corra para poder apanhá-lo.

O fim do mundo já espera o cão que me arrasto pelas ruas que pudessem antes estar vazias. Íamos ao fim do mundo, de mão dada. Veio ele ter comigo e apertou-me a pata para me forçar a entrada. Íamos ver onde ficava para saber que não queríamos entrar. Ele chega-me, em cada dia, como uma varanda apetitosa, como um açaime com o teu cheiro, como uma lâmina a rasgar com a doçura da tua voz.

Os eucaliptos vão murchar. Um dia, o mar cobri-los-á, saído do meu olhar que não vê, inundará a casa onde vivo. Os cães costumam atravessá-los no seu carpido vertiginoso. Um dia, a lâmina há-de fatiar e, dos meus fiambres, as estrelas cairão mortas molhadas. Cairão com a força do fim do mundo que um dia me imaginei. O meu amor e os meus amores congénitos no fim do mundo comigo, entre lâminas que explodiam cogumelos, num fim de tarde que não era mais que pó cinzento aéreo no tempo que morria em contratempos e duplos semibreves anestesiantes. Anestesiantes.

Anestesiantes, entre todas as verbas que nunca foram escritas. Nunca até hoje as hei escrito e de hoje para mais ver, não saberei eu mais escrever porque ele me vai chegar, num silêncio consentido, não saberei eu mais escrever, tal como nunca soube. De hoje para amanhã, estudarei cada degrau descido na subconsciência até deixar de pensar, existir. De hoje para amanhã, deixará de vaguear pelas ruas mais um rafeiro cego - ele tirou-te o lugar. A lâmina vai arranhar mais fundo, mais perto e a casa de banho irá beber do sangue que dói.

A casa onde vivia já não me pertence e a minha casa de banho é a rua virada para o mar que matou os eucaliptos, virada para o mar que só eu vejo entre os trépidos riscos que me circulam no sangue e tu: o meu amor.

Verbo nada:

Eu nada
Tu tudo
Ele nada
Nós nadas
Vós nadas
Eles nada mais.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

E sabes,

nada.

Há do verbo haver

Há tristes dias que acabam por se tornar em dias tristes. Há dias tristes em que uma flor parece ser o mundo e um simples pico a entrada na sub-terra. Há dias, tristes ou não, que se guardam em arcas de tesouro. Todos os nossos dias se acumulam na arca. Ou todos os dias nela se acumularam para ficar, para sempre. Já não acumulam por não me pertencerem mais: os teus dias que eram nossos.

domingo, 15 de junho de 2008

Sabes,

All I know is that you're so nice,
You're the nicest thing I've seen.
I wish that we could give it a go,
See if we could be something.

I wish I was your favourite girl,
I wish you thought I was the reason you are in the world.
I wish my smile was your favourite kind of smile,
I wish the way that I dressed was your favourite kind of style.

I wish you couldn't figure me out,
But you always wanna know what I was about.
I wish you'd hold my hand when I was upset,
I wish you'd never forget the look on my face when we first met.

I wish you had a favourite beauty spot that you loved secretly,
'Cos it was on a hidden bit that nobody else could see.
Basically, I wish that you loved me,
I wish that you needed me,
I wish that you knew when I said two sugars, actually I meant three.

I wish that without me your heart would break,
I wish that without me you'd be spending the rest of your nights awake.
I wish that without me you couldn't eat,
I wish I was the last thing on your mind before you went to sleep.

All I know is that you're the nicest thing I've ever seen.
I wish that we could see if we could be something.
I wish that we could see if we could be something.


Nicest thing, Kate Nash

domingo, 8 de junho de 2008

Faz-te homem, caralho. Pára com essa merda.

Abri olhos e garganta que a água é asneira

Não sei como esperais que vos diga aquilo que não sei dizer. Como tentais ver o que não me forma e formais de mim um todo sem asneira. Como cegais quando é de ver que cego sou eu. Resmungais aos ditos de verdade que me maltratam quando mais pobre que eu não há. Pobre que tem o que qualquer um pediria e que quando o dá, se destrona, na valsa de todos os monstros. E monstros, monstros, deles tomara eu não ser um. E pior do que aqueles que o são impetuosamente, sou dos tristes pobres. Não tenho asas, mas levastes-me a voar; ainda voo por triste que sou. Tivessem as nuvens portas. Mas não têm, que não tenham. Obrigais-me, sóis de primavera azul, a respirar o dióxido do mundo, cá fora. Obrigais porque não tendes a obrigação de o fazer, porque da consciência não vos saltam as nuvens. Mas, senhores, há-de haver o dia em que do mundo me irei e ele não virá comigo, por triste que sou. Não virá porque este desfazer-se-á de mim, logo que as asneiras se me tramem: todas. Miar não se ouvirá mais, nem a água.
E no dia em que eu não acabar sozinho, gritai por mim, porque acabado estarei, gritai e recitai as alegorias dos meus prantos em tom de gozo. Que dos tumultuosos pulmões se ficaram os alvéolos borrifando sanguezinho em volta do tronco. Não me enterreis, que não suportarei mais essa dor, ainda que quase última.
Mas, senhores, não vos ataranteis em demasia com a preparação das vozes para o grito: esse dia não há-de chegar.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Saudade

Em silêncio e de mim,

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Um dia,



as flores tinham cheiro e os relógios contavam o tempo.
Um dia, deixei de saber a que cheiravam e se contavam depressa ou devagar. Deixei de saber como era e como acabou de ser. Como eram os dias e como os dias me eram.
Um dia, as flores murcharam e eu deixei de querer saber delas. Deixei de saber o que é saber-se delas, deixei de ser um delas. Um dia acordei e o tempo tinha passado: nem depressa nem devagar. Tinha passado e as tardes já não eram de choro à hora da sesta. Eram do que já quase não me lembro porque um dia deixei de saber o que sentiam as flores.
Dizei-me, vós: contai-me sobre as flores.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Tivesse eu pele que me cobrisse

Como queria eu saber como é ser-se quente, como é apodrecer tão lentamente no ventre amadurecido das maças vermelhas, no trago caramelizado do vosso corpo. Ai, Senhora, como eu vos aqueceria, como me derreteria se mo permitisses. Senhora, eu drogar-me-ia no vosso corpo, com o vosso sumo derramado. Deixaria a minha boca secar para vos ver a arrastar a voz, cansada de rouca, por todo o meu mundo.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Hoje

Como quando as ruas se despem de tal forma que nelas já não caibo. Já as construções se dissolveram no vazio das tramas. E as especulações devastaram os traços internos do meu peito, do meu ser e da lua que já não arde no céu como dantes. Como quando as pressas não existem e o silêncio se enquadra em todo o panorama. O bater que parece falhado por quase não saber bater. O olhar que não sabe ver por onde vai, por onde fica ou o que fica. Nos restos de um corpo que perdeu a carne, que ainda se ergue pelos tecidos que traz aos ombros como castigo. Como quando se atravessam todas as pontes sobre oceanos de sangue e se chega a um que desapareceu. Os dias que lembram a vida: o de hoje morre-me aos pés. O de hoje é infinito e só ainda vai a meio, as escadas, essas, não consigo subi-las. Não consigo subi-las. Não enquanto não me esperares ao cimo delas.