quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Vamos voar, assim:

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Green Grass of Tunnel

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

As palavras são embrulhos de substâncias que se sentem.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Soldado soldado

Bebo as tuas palavras da tua boca como se fossem um copo de água no deserto ardente que mata. Ardes-me cá dentro sem queimar e matas-me a sede. Avivas-me a sede, matas-ma e voltas a restaurá-la cada vez que te encontro sem te poder tocar. O soldado voltou a nascer, das cinzas já gélidas da neve que lhe tinha caído em cima. Os seus olhos fundos fundos, densos de quem olha e vê, já não viam por não haver que ver e assim se foi. Tinha visto e tinha deixado de poder ver. Agora a cinza levantou-se brasa e dos novos troncos secos espreitou a chama que arde caminhante infinita. Ardes-me, tu, no estômago que não aceita senão água, nas mãos que já não são só minhas, nos pulsos fraquejantes que se tentam endireitar para te agarrar. O soldado levantou-se e pegou no cachecol com dificuldade, não lhe estivesse a vista perra depois de tanto tempo morto de olhos abertos, secos e planos. Brancos, cinzentos de quase podre. Fechou as pálpebras com esforço e sentiu o toque dela, entre as gotas de orvalho que se tinham fixado nas pontas dos dedos. Evaporaram assim que lhe tocou na pele quente e fresca, num vapor visível e perfumado. Matas-me os medos quando está escuro. Não abro já os olhos porque estão a humedecer com o tempo. Assim as percepções são mais nítidas, dos restantes sentidos. Agarro-te, agarro-te, agarro-te como se te fosse perder. Espera –

parece que já não ouço aquilo que tu não emites. Parece que não ouço o mundo a gritar nem as crianças chorar. Eu parei-lhes a dor com o teu interior. Tu paraste-me o monstro com a tua voz, os sufocos com o teu toque. Trazes-me os arrepios e o tempo. Trazes o tempo no bolso e nem te dás conta. Vens e vais, sem ir, trazes o tempo mudado, o tempo mudou, sabias, o tempo muda, tu sabes como muda. O soldado já não vai à guerra, mas dá e leva. Dá aquilo que leva porque o dar e o levar se fundem no ser e o soldado não vai à guerra mas voltou a ser: comalguém. Contíg(u)o.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Animal

Às vezes deito-me despida. De mim, do mundo, da vida – sono – sem paciência para pensar e olhos a secar. Às vezes deito-me despida por mim, despida nua só porque me sinto na fase selvagem animal. Outras vezes deito-me despida por elas, ainda na fase selvagem e animal, por elas que lhes quero o mundo e a vida e só me encontro a mim, no tactear dos lençóis que existem sempre a cobrir-me. Há, ainda, vezes em que me deito nua tão nua despida. Cheia de nada e querendo ter tudo. Despida como me deixam, elas. Sem sentido. Deito-me querendo que me venham vestir para poder ter alguma coisa, sentir alguma coisa que não seja estar a boiar em nada. Deito-me despida para ter frio, para ser carne leve em cama bruta, dura, doentia. Sabendo disso e fazendo-o, deito-me, perguntando-me quando me irão vestir: de tudo. Mas tudo tenho eu, tenho a roupa, mas não tenho quem ma vista – não tenho nada. Acabou. Fico-me assim, pobre e só, tendo. É horrível, não é? Ter e não querer ter. Sou horrível. Só terei quando mo quiserem dar, com as mãos, com o tronco, a boca, com o mundo, quando me vestirem a roupa que tenho, vestindo-me o mundo com ela. Com as mãos dela, o tronco, a boca, o mundo. Aí dormirei despida por ter tudo.