segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Animal

Às vezes deito-me despida. De mim, do mundo, da vida – sono – sem paciência para pensar e olhos a secar. Às vezes deito-me despida por mim, despida nua só porque me sinto na fase selvagem animal. Outras vezes deito-me despida por elas, ainda na fase selvagem e animal, por elas que lhes quero o mundo e a vida e só me encontro a mim, no tactear dos lençóis que existem sempre a cobrir-me. Há, ainda, vezes em que me deito nua tão nua despida. Cheia de nada e querendo ter tudo. Despida como me deixam, elas. Sem sentido. Deito-me querendo que me venham vestir para poder ter alguma coisa, sentir alguma coisa que não seja estar a boiar em nada. Deito-me despida para ter frio, para ser carne leve em cama bruta, dura, doentia. Sabendo disso e fazendo-o, deito-me, perguntando-me quando me irão vestir: de tudo. Mas tudo tenho eu, tenho a roupa, mas não tenho quem ma vista – não tenho nada. Acabou. Fico-me assim, pobre e só, tendo. É horrível, não é? Ter e não querer ter. Sou horrível. Só terei quando mo quiserem dar, com as mãos, com o tronco, a boca, com o mundo, quando me vestirem a roupa que tenho, vestindo-me o mundo com ela. Com as mãos dela, o tronco, a boca, o mundo. Aí dormirei despida por ter tudo.

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