quinta-feira, 12 de março de 2009

(Pedaço de algo)

Encosto-me à socapa ao tempo como se lhe fosse pedir: ouve-me. Peço-te que me mates já. Como não pode ser Cada coisa no seu tempo, terei o tempo em que estarei prestes a morrer, um tempo certo em que as funções, se algum dia as cumpri, se vão apagar do meu eterno balanço corporal. Balanço-me sobre o teu peito, sim, o teu, o que me faz querer matar o tempo involuntariamente. Trepo-te pelo tronco acima como se os morangos te crescessem das plantas das mãos que manténs acima do nível da cabeça. Os teus cabelos confundem-me o cérebro, será que estou onde estou onde as tuas mãos rebolam por mim adentro Mas, e os morangos, deixa-me apanhar-tos, deixa-me arrancá-los com a minha boca que se torna, progressivamente, um deserto acima do nível do céu. Parto-me por dentro mas o que quero dizer é que me partes aos bocados e me destronas a força das pernas. Caio-me de joelhos sobre o manto que nos acolhe do relento da casa dos homens que; a rua. Eu quero voar para as montanhas sem fim e onde o rio se funde com o sangue que te dá vida. Amanhã vou emprestar os olhos à morte para me saber atirar. Mais força, mais força que eu emprego aos gestos que embalo sobre o ar. O ar saturado da tua presença que me castra os sentidos num reboliço nervoso. Onde vais Vais aonde te dizem que pertences, onde ainda pertences, onde irás sempre pertencer. Que assim seja, que tenhas sempre onde pertencer. Vais que eu sei que voltas mas não sabes os átomos que de ti ficam debaixo do tecto da rua pedonal. E que esses átomos, restos vivos da tua presença, da tua existência, da nossa confissão, das tempestades atordoantes que me pegam fogo ao tronco cheio de seiva. Ela borbulha, espuma-se numa inquietude inigualável, derreto-me aos poucos. Escorre a seiva fumegante enquanto emite bufos com as borbulhas que se atropelam umas às outras. Vais e voltas que não nos aguentamos sem nos desertificarmos as bocas. Vais e voltas como se as acções não queimassem o tempo. Vens. Encosto-me. Atiro-me. Apanhas-me (?)

2 comentários:

  1. O balanço não morre e
    não te mata
    Não mata que eu não deixo
    Mato-o eu e olha que mato,
    ( )

    (Sabes o que está lá dentro?)

    Os meus suspiros que são articulações despidas dos ventos que me vivem nestes mil milhões de pulmões (flap flap flap – têm asinhas, ouve!) dizem o que só tu vês lá dentro

    (Sabê-los mais do que dá-los)

    Os cachinhos cor de ouro, platina, cinzentos velados correm-me nos olhos e nas pálpebras são-me a luz de algo que só queria partilhar contigo (contigo!) A menina pula de felicidade futura de tudotudotudo (ai – tudo)


    Sobe, sobe trepa escala-me as montanhas
    e vem beber-me à fonte e
    aos morangos
    anda proferir
    um Bom Dia
    abençoado




    Diz-me (tenho sempre onde pertencer?)
    sussurro ( d i z – m e )

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