domingo, 27 de abril de 2008

O quase nada do meio

Os trevos rangiam no desconsolo do peso que os esmagava,
enquanto um braço se soltava.
Os picos, que tinham ficado a conhecer o calor da tarde,
sem dó, cumpriam a sua função,
agarrados ao caule de roseira silvestre.
Erva amarrotada, erva que se intrometia
na fogueira que ardia acima da terra que sujava.

Os troncos, abraçavam-se, na delicadeza dos gestos,
no turbilhão de vozes de insectos
e dos comboios que passavam sem passar.
A erva que existia sem existir, o som,
o ar que nada importava se era formado por oxigénio ou dióxidos.
O tudo que nada importava: excepto o quase nada do meio
que se tornava no tudo.

O descer e subir da colina, o parar a meio para respirar,
para certificar de que ainda há ar e som e sede e cheiro e,
no absurdo da falência do tactear, conferir com o olhar.
Ver que ainda estás ali, que olhas o mundo com os teus dois
rebuçados mentolados que me penetram,
que me chamam para casa e me dão as
Boas vindas.

1 comentário:

  1. No meio das coisas está tudo o que os extremos afastam e tornam frio. O meio é sempre mais quente e suave: é lá que tiramos lentamente o coração do peito e o mostramos na palma das mãos.

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