segunda-feira, 8 de junho de 2009

Derme adentro

Os dias passam a correr. Passam sempre, bem sei, ou quase, mas agora passam e nem lhes apanho o fio para me agarrar e correr com eles. Ela passa, breve ligeira mas funda, passa pelo tempo que nos encontra e deixa-se, quase somente. Deixa-se em mim que nem tempo tenho eu para lhe procurar nada, descobrir, descortinar mesmo o que já me pertence. Palavras e dois gestos, três beijos e um choro que me corroeu naquele dia por dentro das dermes, que corrói ainda: arrebata-me o peito e eu silencio na esperança que ela não repare que não pergunte que não me faça mostrar a fraqueza húmida mas morna, uterina, mulher. Engano a dor que me engana a mim. Faço de conta. Mas ela sabe na mesma como dói e lhe dói o mundo em choro e eu, criança, a saber como ela sabe.
Os dias passam a velocidades fractais e eu já não sei com que pé piso que passeio. Já não sei que eternidades se levam entre o pós ter-te e o ante ter-te que me parecem sempre dias inteiros em que mal te vejo e a saudade não morre. O nó parece travado cá dentro e ora se solta ora me mata a voz, os gestos. Ora me ficas ficas tão entranhada, tu e esta maldita saudade bendita, me ficais e eu nem uma baforada de renovação de ar liberto. Ficas entranhada como se te despejasses nas minhas mãos num peso bruto por não podermos percorrer o ar em suspiros e respiros fortes na leveza das horas. Horas essas que pararam ou que, não, afinal correram tão depressa que, não. Essas horas pararam quando os dias passaram a correr diante de mim. Já nem os vejo, já nem te vejo. A não ser cá dentro onde sempre te puxo para mim. Para dentro.

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