domingo, 10 de maio de 2009

Lama

Deixa, deixa-me em paz que eu sei que devia ser mais mas
Eu não posso ser tudo, tenho que ser mais, ser tudo. Não posso, não consigo e deve doer-lhes. E dói-me a mim quando me lembro que me lembro quase todos os dias e quase todos os dias faço o mesmo sou o mesmo sou nada de tão pouco tanto para ela que me estende o brilho ao olhar ou às vezes até nada para ninguém. É terrível, é tão terrível ser como eu. Porque tinha eu que ser assim Não tinha, fiz-me assim, fizeram, tive que ser. É triste, é tão triste e eu sei que é. Se ao menos eles fossem uns quaisquer, mas são tudo menos isso e eu continuo, cobarde.
Vou por aí ser tudo, ser a terra que a enlama de doçura e regresso ao fim da jornada no cansaço de lhe ser mais, caio nos braços da cama solitária, larga mal usada, quase sem lhes ver o rosto o sorriso que pouco trazem, a força com que me deixam ir, a ti e ao descanso que tem sido doloroso. Miséria, que miséria de filho me formei. Regras quebradas ou quase inexistentes, algumas, que não são impostas. Também assim o faria, se um dia fosse pai. Vai atrás daquilo que te é importante, daquilo que te dá vida, daquilo que és, com quem és. A dor de ver partir, de ver chegar quase sem chegar, de desejar que nunca tenha partido ainda que lhe tenham conferido as asas para poder voar.
O amor.
Mas é assim que tem que ser: o estar e não estar; as visitas; o estar entalado pelo tempo; o nunca mais voltar a ser pequenino.
E eu quero tanto ser-lhe o mundo.

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