quarta-feira, 28 de maio de 2008

Trevos...

Escolho trevo de três pétalas porque os de quatro não me aparecem. Também não os quereria eu, já que a quarta nos causaria transtorno. Olha. Olha que me estico para o lado, olha que me emerjo pelos montes que trazes aos pés. Embrulho-me nas secções dos nossos cantos, do jardim que nos acolhe em tempos de chuva e em tempos de ternura. Embrulho eu, toda a tua dor, toda a desvontade que ainda libertas, por entre as chagas de pólen ou de simplicidades arbitrárias, embrulho eu, tudo o que trazes de fome e cru, tudo cru e tudo em demasia, tudo que te arde, não de calor, mas de raiva. Meu amor. Tudo que te rebenta no centro do tronco e que eu embrulho num papel, em trinta papéis, em papéis feios e bonitos, papéis que nada importam, que guardam tão somente aquilo que se te verte do peito ardido. Ele foi ter com ela. Ela é uma cabra, amor. Ela não é como nós, amor, nunca será. E embrulho-a, também. Embrulho-a tão bem embrulhada, com tanta fita cola, daquela grossa, amor, para que não se escape. Quero empacotar tudo como se mudássemos de casa, como se fossemos para a nossa casa, amor. Empacotar tudo com cuidado e eficácia. Mas não levo os pacotes no carro, não levo. Estes deixo-os ali fora, à minha porta para que os homens do lixo os venham buscar daqui a três quartos de hora. Embrulho o lixo que te rasga e me faz ver-te assim. Ela merece, amor. Eu vou rasgar o embrulho dela, vou rasgá-lo agora. Olha. Olha que me estico de tal forma que os braços quase se me desencaixam. Embrulho-me neste acto tão vil e tão inocente. E, amor, já vais…

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