sábado, 26 de setembro de 2009

21+6

Acordo e não largo a cama, não piso mais o céu que as estrelas ardem uma a uma nos pés como pantufas dos deuses. Sabem eles como escrevo a dedicação que verto pelas mãos, pela boca que não tem mais fome e como me rebenta o coração em acelerações e pesos que nem os maiores halteres têm. E sorrio a meio do corroer do peito que não é um corroer, que é um tempo sem espaço, falta-me tudo sem faltar nada. Não morro, atiro-me ao céu e caio sempre nas estrelas: numa, noutra, sonho que sou maior que elas, que me apertam os pés como me apertas o coração assentas como uma luva apertas apertas camisola dele vestido meu que só assim o uso: connosco. Cavalgo pelo universo adentro sem cair aos bocados, não caio. Vivo-me cá dentro sabendo que existes. Falo sem me ouvires, falo tanto, eu sei que não ouves mas falo na mesma, acordo na mesma, não saio da cama na mesma, anseio na mesma, apanho-te na mesma. Corro rios de sangue-vida sobre as mãos, pergunto amores, sinalizo as árvores de seiva estanque. Sangue-vida, sempre vida. Não morro. Não há nuvens e piso as estrelas, acima das nuvens, bem acima do céu, onde afinal sempre te servi licor. Me serviste sangue-teu. Diz-me que ainda serves dele, que servirás. Que o espaço te vai voltar e o tempo voltar a acabar. A seiva regressa ao ciclo e a terra é a casa dentro da tua boca, sempre a tua boca, sempre a terra, lama minha. E eu gosto tanto de lama e já lá vai o tempo em que até a comia na prova dos bolinhos desenformados. Passione acordada. Sempre vida e nunca para sempre. Meu amor, nunca para sempre

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